Os sentimentos e expectativas dos adultos seriam uma espécie de encenação aos olhos dos adolescentes, uma vez que estes já estariam convencidos dessa espécie de esterilidade afetiva dos mais velhos
Depois de um (bom) tempo longe, volto a postar.
Quase sempre, a relação adulto-adolescente é conflituosa. Nossa sociedade contemporânea já se acostumou que, inevitavelmente, haverá um período na vida de seus jovens que será incomodo – para todos. De tão incômodo, antecipamos essa época e chamamos de pré-adolescência aquele período da infância que já aponta para esse caminho.
Essa tormenta se baseia numa espécie de mal-entendido fundamental: 1) os adolescentes menosprezam a experiência dos adultos. 2) os adultos menosprezam a experiência dos adolescentes. Tentemos entender. 1) Os adolescentes, em regra, olham os adultos (a começar pelos próprios pais) como seres resignados, até um tanto covardes, uma vez que teriam desistido de seus sonhos. A vida adulta se resumiria a uma intensa renúncia em prol da manutenção da família e do trabalho. Nesse ponto haveria uma dose de culpa, de ambas as partes. Dos adolescentes, porque seriam “a causa” dessa renúncia, por serem filhos; e dos adultos também, por não terem "tempo suficiente” para os filhos. Os sentimentos e expectativas dos adultos seriam uma espécie de encenação aos olhos dos adolescentes, uma vez que estes já estariam convencidos dessa espécie de esterilidade afetiva dos mais velhos.
Será essa visão cruel e decepcionada do universo adulto foi construída exclusivamente pelos adolescentes? Podemos dizer que não. Os adolescentes acreditam naquilo que os próprios adultos lhe dizem: “aproveite essa fase, porque quando você for adulto e ter de trabalhar, não vai ser nada fácil!”. A adolescência passa a ser vista como um Éden perdido e perfeito e que, fatalmente, chegará ao fim um dia. Resultado: um adolescente ficará muito surpreso e até revoltado quando um adulto “ousar” apresentar seu desejo. “Como assim você vai separar da mamãe/papai porque está com outra pessoa?”. Um adolescente pode até achar a vida de papai e de mamãe um marasmo ou uma rotina de zumbis; porém, o mesmo adolescente pode ficar ultrajado se seus pais, “de repente”, resolvem correr atrás de um sonho, desejo.
2) Via de regra, para um adulto o adolescente é um ser inacabado, um ensaio com, normalmente, mais erros do que acertos – e por isso que eles seriam tão irritantes. Os adolescentes seriam uma promessa futura, de um momento outro que seria o “viver de verdade”. Ou seja, as vivências e experiências adolescentes não são consideradas como genuínas. Aos olhos condescendentes dos adultos, um amor adolescente é, geralmente, não muito diferente do que uma criança de sete anos dizendo estar apaixonada. O que o adolescente faria, então, para ser levado a sério? Nas últimas décadas assistimos estarrecidos atos adolescentes nos EUA e na Europa de jovens que saem atirando em colegas e professores (e em si mesmos, depois). “Será que seu eu matar 20 pessoas na minha escolar vão em levar a sério?”. E tudo isso registrado e escrito, não mais em diários, mas em blogs e vlogs na internet para quem quisesse ver. No final, ninguém acabou vendo (antes) e levando a sério.
Talvez os adultos desvalorizem a experiência do adolescente para compensar a inveja que seus corpos e sua vida (ainda muito a ser trilhada) desperte. De qualquer forma, os adolescentes acabam retribuindo esse pouco caso olhando a vida adulta, também com desdém. E se angustiando: “Bom, se eles dizem que agora é que é a maravilha e depois é que vem o difícil, então...”. Pois é, a adolescência não é perfeita e a vida adulta também não é a morte dos sonhos. Sobre isso, recomendo “Lol – rindo a toa”, filme produzido na França em 2008. Há uma crítica sobre esse filme de que ele seria muito menor ao famoso “Entre os muros da escola”, produzido no mesmo país e ano e que versa sobre a complexa situação da Educação na França (e certamente no mundo). Não penso que Lol – sigla inglesa para laughing out loud, geralmente escrita nos mensagers para dizer que se deu uma gargalhada – seja inferior ao seu outro compatriota. Se a educação é pensada como algo importante e sério, porque a experiência da nossa vida afetiva e amorosa também não o seja? Um convite a levá-la em conta.