quinta-feira, 17 de março de 2011

RINDO À TOA



Os sentimentos e expectativas dos adultos seriam uma espécie de encenação aos olhos dos adolescentes, uma vez que estes já estariam convencidos dessa espécie de esterilidade afetiva dos mais velhos




Depois de um (bom) tempo longe, volto a postar.

Quase sempre, a relação adulto-adolescente é conflituosa. Nossa sociedade contemporânea já se acostumou que, inevitavelmente, haverá um período na vida de seus jovens que será incomodo – para todos. De tão incômodo, antecipamos essa época e chamamos de pré-adolescência aquele período da infância que já aponta para esse caminho.

Essa tormenta se baseia numa espécie de mal-entendido fundamental: 1) os adolescentes menosprezam a experiência dos adultos. 2) os adultos menosprezam a experiência dos adolescentes. Tentemos entender. 1) Os adolescentes, em regra, olham os adultos (a começar pelos próprios pais) como seres resignados, até um tanto covardes, uma vez que teriam desistido de seus sonhos. A vida adulta se resumiria a uma intensa renúncia em prol da manutenção da família e do trabalho. Nesse ponto haveria uma dose de culpa, de ambas as partes. Dos adolescentes, porque seriam “a causa” dessa renúncia, por serem filhos; e dos adultos também, por não terem "tempo suficiente” para os filhos. Os sentimentos e expectativas dos adultos seriam uma espécie de encenação aos olhos dos adolescentes, uma vez que estes já estariam convencidos dessa espécie de esterilidade afetiva dos mais velhos.

Será essa visão cruel e decepcionada do universo adulto foi construída exclusivamente pelos adolescentes? Podemos dizer que não. Os adolescentes acreditam naquilo que os próprios adultos lhe dizem: “aproveite essa fase, porque quando você for adulto e ter de trabalhar, não vai ser nada fácil!”. A adolescência passa a ser vista como um Éden perdido e perfeito e que, fatalmente, chegará ao fim um dia. Resultado: um adolescente ficará muito surpreso e até revoltado quando um adulto “ousar” apresentar seu desejo. “Como assim você vai separar da mamãe/papai porque está com outra pessoa?”. Um adolescente pode até achar a vida de papai e de mamãe um marasmo ou uma rotina de zumbis; porém, o mesmo adolescente pode ficar ultrajado se seus pais, “de repente”, resolvem correr atrás de um sonho, desejo.

2) Via de regra, para um adulto o adolescente é um ser inacabado, um ensaio com, normalmente, mais erros do que acertos – e por isso que eles seriam tão irritantes. Os adolescentes seriam uma promessa futura, de um momento outro que seria o “viver de verdade”. Ou seja, as vivências e experiências adolescentes não são consideradas como genuínas. Aos olhos condescendentes dos adultos, um amor adolescente é, geralmente, não muito diferente do que uma criança de sete anos dizendo estar apaixonada. O que o adolescente faria, então, para ser levado a sério? Nas últimas décadas assistimos estarrecidos atos adolescentes nos EUA e na Europa de jovens que saem atirando em colegas e professores (e em si mesmos, depois). “Será que seu eu matar 20 pessoas na minha escolar vão em levar a sério?”. E tudo isso registrado e escrito, não mais em diários, mas em blogs e vlogs na internet para quem quisesse ver. No final, ninguém acabou vendo (antes) e levando a sério.

Talvez os adultos desvalorizem a experiência do adolescente para compensar a inveja que seus corpos e sua vida (ainda muito a ser trilhada) desperte.   De qualquer forma, os adolescentes acabam retribuindo esse pouco caso olhando a vida adulta, também com desdém. E se angustiando: “Bom, se eles dizem que agora é que é a maravilha e depois é que vem o difícil, então...”. Pois é, a adolescência não é perfeita e a vida adulta também não é a morte dos sonhos. Sobre isso, recomendo “Lol – rindo a toa”, filme produzido na França em 2008. Há uma crítica sobre esse filme de que ele seria muito menor ao famoso “Entre os muros da escola”, produzido no mesmo país e ano e que versa sobre a complexa situação da Educação na França (e certamente no mundo). Não penso que Lol – sigla inglesa para laughing out loud, geralmente escrita nos mensagers para dizer que se deu uma gargalhada – seja inferior ao seu outro compatriota. Se a educação é pensada como algo importante e sério, porque a experiência da nossa vida afetiva e amorosa também não o seja? Um convite a levá-la em conta.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Por um “Freud implica”... acessando a liberdade na era da globalização


Este texto pretende fazer algumas considerações a respeito da tese de doutorado de Jorge Forbes, intitulada “Inconsciente e responsabilidade” (http://migre.me/3LxrL), em especial naquilo que se refere sobre a responsabilidade frente ao inconsciente nossa pretensão de liberdade.

Essa tese de Forbes nos surpreende, já em um primeiro contato, sobre seu número de páginas. Digo isso pensando naqueles que estão habituados às dissertações e teses acadêmicas que, tradicionalmente, se tornam “verdadeiros” tratados. O que quero dizer com isso? Textos que somam facilmente 300 páginas ou mais. Ao percorrermos esse texto de Forbes, vamos constatando que não é necessariamente preciso intermináveis páginas para se tocar com profundidade certos temas; com destaque esse que já se faz polêmico por pretender discutir assuntos que estamos acostumados a categorizar como dissociados: inconsciente e responsabilidade. Ou seja, como assim poderíamos aplicar responsabilidade naquilo que é inconsciente? O Jurídico não afirma inimputabilidade naquilo que foge à esfera consciente? Pois é, mas Freud (1925/1996) já nos dizia, em suas formulações metapsicológicas, que essas construções sociais dos juristas são bastante artificiais frente aquilo que a psicanálise pode saber sobre nosso ego.

Um dos pontos mais interessantes na tese de Forbes, pelo menos nesse pequeno ponto que resolvemos abordar, é que essa noção de irresponsabilidade frente ao inconsciente – assumida de forma artificial pela sociedade, como Freud nos aponta acima – acabou adentrando o setting psicanalítico. Uma atitude auto-justificada que se estrutura em muitas frases de pacientes como, por exemplo: “se eu fiz isto, foi meu inconsciente” (Forbes, 2010, p. 32). O sujeito se furta da responsabilidade pelos seus desejos através de um discurso supostamente psicanalítico. Ora, se Freud (Op. Cit.) já havia frisado que não existe essa suposta separação de continentes ego e id, ou seja, o nosso ego (Eu) é apenas uma parte modificada e influenciada dIsso – que parte da psicanálise optou por nomear id. Os desejos inconscientes podem ser categorizados moralmente como bons ou maus, tal como os pensamentos conscientes que habitualmente somos inclinados a fazer. Contudo, renegar a responsabilidade frente ao inconsciente é, ao menos, uma escolha nada prática; afinal, de que adiantaria se furtar de assumir e/ou mudar certos desejos em nossa vida cotidiana dizendo não ser nosso certo desejo se ele nos influencia diretamente em nosso cotidiano? “Se alguém ficar insatisfeito com isso e gostar de ser ‘melhor’ do que foi criado, deixem-no ver se pode atingir na vida algo mais que hipocrisia ou inibição” (Freud, Op. Cit.)

E esse ponto que escolhemos para trazer aqui e incitar o leitor a ir a Forbes, se faz interessante principalmente na articulação que esse autor faz com a nova modalidade de relações sociais e de subjetivações que se constrói nesse era chamada “Globalização”, onde o mundo se altera de uma estrutura vertical, pai-orientada para uma horizontal, múltipla. Por quê? Principalmente porque agora não temos mais certas categorias ou pilares sociais para orientar-obrigar certas escolhas. Hoje não serei mais médico ou empresário porque há uma tradição familiar que me impele a isso. Ou ainda, não continuarei casado contigo porque jurei no leito de morte de seu pai que cuidaria de você até o fim de nossos tempos. Na contemporaneidade nossas relações se fazem articuladas e mantidas por desejos mais diretos, que aos olhos mais conservadores seriam “demasiadamente” fugazes. São novos tempos, nova realidade, sem desculpas por escolhas de um Outro. E isso exige uma nova modalidade de responsabilidade. Talvez seja isso que faz Forbes nos convocar a abandonar aquele “Freud explica” por um “Freud implica”, ou seja, não vale mais responsabilizar um passado através de nossas descobertas arqueológicas na mente se não nos implicarmos frente à responsabilidade de nossos desejos e escolhas. “Indabem” que temos mais oportunidades de escolhas hoje; não sejamos reacionários e exigir um mundo do outrora que não existe mais. Se ele realmente tivesse sido perfeito, teríamos abandonado?

REFERÊNCIAS:

FORBES, J. Inconsciente e responsabilidade. Tese de doutorado – UFRJ Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica, Outubro de 2010. Acesso em http://migre.me/3LxrL

FREUD, S.. Algumas notas adicionais sobre a interpretação de sonhos como um todo. Parte B: - Responsabilidade moral pelo conteúdo dos sonhos (1925). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Trad. sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XIX, p. 155-173 


 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A título de introdução

Olá companheiros,

Estou aqui postando a minha primeira participação. Sejam todos muito bem vindos!

A idéia aqui será a de fazer alguma reflexão semanal sobre as aulas ministradas junto aos meus queridos alunos e/ou ao ponto que mais me interessa na vida, o cotidiano humano. O projeto não será o de seguir algum modelo de texto específico, como uma crônica, por exemplo. Estou pensando em, se possível, trabalhar algo no estilo de um hipertexto – conceito que ainda está por ser definido, mas que podemos pensar nessa modalidade contemporânea de divulgar idéias através de várias formas e mídias (textos, áudio, vídeos, etc..). Claro, dentro dos meus limites de informática, que são bem intensos. (rsrsrs).

Com isso, procurarei fazer um espaço mais amplo de debates do que aquele exclusivo das salas de aula. Algo que, penso eu, vai bem ao encontro de nossa época chamada de “globalizada”. Um universo maior do que os (antigos) encontros físicos e ligado, principalmente, pelo desejo. Que, no caso aqui, é o de estimular o pensamento. 

Sigmund Freud (1856-1939) pode resumir bem essa tentativa de introdução: “Não almejo despertar convicção. Almejo estimular o pensamento e perturbar preconceitos”.   

Boas vindas!